Total de visitas hoje

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Laudo confirma que PM matou criança no Nordeste de Amaralina

Arivaldo Silva l A TARDE*

                                                                                                             Arestides Baptista/Agência A TARDE
A bala calibre .40 (de uso exclusivo das Forças Armadas) furou a janela do quarto de Joel



Vinte e cinco dias após a trágica morte do pequeno capoeirista Joel da Conceição Santana, 10 anos, ocorrida na Rua Aurelino Souza, Nordeste de Amaralina, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) apresentou nesta quinta-feira, 17, a conclusão do inquérito que confirma a versão da família e dos moradores do bairro: a morte do garoto foi fruto de uma ação desastrosa de policiais militares no bairro no último dia 21 de novembro.

Os laudos periciais do Departamento de Polícia Técnica (DPT) confirmam que o único projétil que atingiu o rosto e ficou alojado no cérebro de Joel partiu de uma pistola calibre .40, usada pelo soldado da Polícia Militar Eraldo Menezes de Souza, lotado na 40ª CIPM (Companhia Independente da Polícia Militar), que trabalha há 14 anos na corporação.

Outra constatação da perícia, aliada às provas subjetivas (testemunhais), é que não houve troca de tiros, pois todos os estojos coincidem com os projéteis das armas dos policiais, recolhidos na rua por populares e entregues à polícia. Eraldo e os outros nove policiais estão afastados do serviço, até a conclusão do julgamento. Dois deles, soldados Leonardo e Santana, foram identificados pelo pai da criança, Joel Castro, e estão sendo indiciados por omissão de socorro.

A informação foi apresentada pelo secretário da Segurança Pública, César Nunes, pelo delegado-geral da Polícia Civil, Joselito Bispo, e pela delegada titular da 28ª CP (Delegacia do Nordeste de Amaralina), Jussara Souza.

Durante a apresentação da conclusão do inquérito, Nunes disse que foi analisado pela perícia, principalmente, o laudo de balística, que determinou a trajetória da bala como de baixo para cima, na posição diagonal à janela do quarto do garoto, o que não deixa dúvida quanto à autoria do homicídio.

“Está efetivamente provado que o disparo partiu do PM. A corporação auxiliou na investigação, fornecendo as armas. O inquérito agora será encaminhado ao Ministério Público e, depois, para a Justiça”, afirmou o secretário.

Pais - “Todos eles têm de pagar. Vim aqui para saber como será agora. Os policiais precisam ser apresentados, como fazem com criminosos comuns. Vi meu filho morrer e não pude fazer nada”, cobrou o capoeirista Joel Castro, que compareceu, nesta quinta, à delegacia com a mulher, Mirian da Conceição, 36, a filha de 3 anos, e o tio de Mirian, Vivaldo Rodrigues (mestre Boa Gente), 65, para saber o resultado da perícia.

Joel Castro encontrou César Nunes na saída da delegacia e perguntou sobre a possibilidade da punição de todos os envolvidos no crime. O secretário saiu, e o pai ficou sem a resposta que esperava. Familiares e amigos do garoto realizarão uma homenagem à pequena vítima, no dia 27 de dezembro, dia em que Joel completaria 11 anos. A homenagem será feita no Nordeste de Amaralina.

Denúncia - De acordo com o promotor de justiça titular da 2ª Vara do Tribunal do Júri de Salvador, Davi Gallo, que acompanha as investigações desde o início, não há possibilidade de que os policiais envolvidos nesse caso fiquem impunes. “Assim que o inquérito chegar ao MP-BA agiremos. Se for encaminhado para mim, vou utilizar todas as provas e denunciar os acusados perante a Justiça. Em princípio, são dois crimes, um homicídio duplamente qualificado, por motivo torpe e impossibilidade de defesa da vítima, e outro crime por omissão de socorro”, explicou o promotor.

Uma pistola calibre 380 que foi apresentada pelos PMs, que teria sido abandonada por criminosos no confronto, foi enviada para ser periciada num laboratório da Polícia Federal, em Brasília, como forma de identificação do proprietário. A arma encontra-se com a numeração raspada.

O advogado da Associação de Praças da Polícia Militar, Bruno Teixeira Bahia, disse nesta quinta que soube do resultado do inquérito por meio da imprensa e que já solicitou cópia do inquérito à delegada Jussara. “Causa espanto que o laudo tenha esse resultado. Porque, pelos relatos dos policiais, houve, de fato, uma troca de tiros, e pela posição em que estavam, o disparo que atingiu o garoto não poderia ter partido deles. Mas, se o conteúdo do laudo for confirmado, certamente foi uma lamentável fatalidade”, pondera o defensor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Gostou comente.
O jornal online agradeçe pela sua visita.

Marcadores